Em menos de um ano de gestão, prefeito demonstra incapacidade de conter desmandos internos e navega em mar de denúncias, enquanto tenta culpar a imprensa pela própria inépcia.
Um áudio vazado nas redes sociais expôs, na última semana, as entranhas de uma gestão municipal que parece ter abandonado o discurso de “lisura e transparência”, bandeira de campanha do prefeito, para adotar práticas espúrias e contrárias ao interesse público. A gravação, atribuída a uma secretária municipal descrita como “muito amada pelo prefeito, sabe-se lá por quais motivos”, traz um pedido explícito: que correligionários do chefe do Executivo se inscrevam em um seletivo recentemente aberto para “evitar que pessoas que são oposição” passem para os cargos.
A justificativa esfarrapada da secretária, de que seriam “pessoas difíceis de conviver”, não engana ninguém. Revela, na verdade, um projeto claro de aparelhamento do funcionalismo, onde o mérito e a capacidade são subjugados pela lealdade política cega. O episódio, que mancha não apenas este processo seletivo, mas lança uma sombra de desconfiança sobre editais anteriores, incluindo o polêmico “concurso para rainha do rodeio”, aponta para uma falha gravíssima no comando da cidade: a fraqueza do prefeito perante seus subordinados.
A autoridade máxima do município, que deveria zelar pela impessoalidade e pela legalidade, mostra-se incapaz ou conivente com ações que transformam a máquina pública em um feudo político. Permitir que uma subordinada direta orquestre publicamente um esquema para barrar opositores em seleções públicas é sinal de descontrole gerencial ou de concordância tácita. Se não ordenou, foi omisso. Se não sabia, era incompetente. Se sabia e não coibiu, é cúmplice. Em qualquer um dos cenários, a figura do prefeito sai gravemente enfraquecida.
A reação padrão da gestão diante das crescentes denúncias que coleciona em várias pastas tem sido, “tentar maquiar os problemas culpando a imprensa de ser sua oposição”. Esta estratégia é tão velha quanto ineficaz para quem prometeu transparência. Acusar os mensageiros é o refúgio dos gestores que não conseguem apresentar respostas ou resultados. A imprensa séria cumpre seu papel social ao expor os desmandos e a falta de cuidado com o dinheiro público e deve, de fato, também destacar os acertos, quando existirem. No entanto, neste primeiro ano, “foram mais erros do que acertos”.
O episódio do áudio não é um fato isolado. É a ponta de um iceberg de uma administração que, ao que tudo indica, “navega contra a corrente” dos princípios que jurou defender. A fraqueza na liderança permite que subordinados ajam como donos do poder, usando cargos e recursos públicos para fins particulares e de perpetuação política. A mensagem que fica para o cidadão pedrogomense é a de que o acesso a um emprego público pode depender mais de indicação e filiação partidária do que de currículo e habilidade.
Enquanto o prefeito não demostrar firmeza para cortar pela raiz essas práticas, punindo exemplarmente os envolvidos e refundando os processos seletivos com auditoria independente e total transparência, seguirá sendo visto não como um líder, mas como um refém de seu próprio círculo ou, pior, como seu arquiteto. A fraqueza perante os subordinados é, frequentemente, a causa primária da corrosão da ética na administração pública. Em Pedro Gomes, essa corrosão parece estar em estágio alarmante.
Escute o áudio:
