A data dedicada aos garis deveria ser um momento de reconhecimento e valorização desses profissionais, que diariamente garantem a limpeza e a saúde pública, muitas vezes em condições precárias e com baixa remuneração. No entanto, a Prefeitura de Pedro Gomes (MS), em uma atitude no mínimo desastrosa, publicou uma propaganda que, em vez de homenagear, reforçou estereótipos racistas ao associar a figura do gari exclusivamente a um homem negro em um lixão.
A imagem escolhida não é inocente. Ela reflete uma estrutura social que historicamente reserva às pessoas negras os trabalhos mais árduos, subalternos e marginalizados. O gari, como bem destacado na própria explicação da origem do termo, é um profissional que merece respeito, independentemente de sua raça. No entanto, a administração municipal reduziu essa profissão a um símbolo de racialização do trabalho precarizado, como se apenas corpos negros devessem ser vinculados ao manejo do lixo.
O pior é que a prefeitura demonstra total desconexão com a realidade desses trabalhadores. A imagem que acompanha a publicação até mostra um homem negro sentado sobre um lixão, que em muitas cidades nem existem mais, porém, em Pedro Gomes(MS) ainda é motivo de preocupação. Se não foi intencional, foi, no mínimo, uma grave negligência. Se foi proposital, é ainda mais condenável, pois perpetua a ideia de que certas profissões são “destinadas” a grupos racialmente marginalizados.
Não basta parabenizar os profissionais se, na prática, a representação que se faz deles os inferioriza e os aprisiona a um lugar social de subalternidade, como diz a letra da música – “Só trampando que preto usa terno”. A população de Pedro Gomes tem todo o direito de se indignar, pois uma gestão pública deveria promover a igualdade e combater o racismo, não reproduzí-lo em suas campanhas.
Que esse episódio sirva de alerta para que a prefeitura reveja suas estratégias de comunicação, ouvindo de fato os trabalhadores e representando-os com a dignidade que merecem. Afinal, uma sociedade que preza pela justiça social não pode compactuar com imagens que reforçam desigualdades históricas. O dia do gari deveria ser sobre respeito, não sobre reforçar estereótipos racistas.