Enquanto as ruas de Pedro Gomes (MS) se iluminam com um natalício desperdício de R$ 150 mil, as sombras da negligência e do descaso continuam a assombrar os corredores da Creche Municipal Estudante Elvira Teodoro Jesus de Farias. Mais uma vez, a reportagem do Conexão PG News é provocada por um grito de socorro, desta vez, o desespero incontido de uma mãe que viu a integridade de sua filha ser violada no mesmo local que deveria ser sinônimo de cuidado e segurança. A pergunta que ecoa, ensurdecedora, é: quantas denúncias são necessárias para que a Prefeitura e sua Secretaria de Educação acordem de seu letargo criminoso?
O histórico desta unidade é um retrato acabado da omissão institucional. Só em 2025, duas matérias já escancararam práticas abusivas que, nas palavras de especialistas, “beiravam ao crime”. A resposta padrão do executivo municipal? A negação automática. A secretária de educação, em vez de abrir investigações sérias, preferiu o método antiquado e desacreditado de tentar desmentir a imprensa, tratando pais e sociedade como inimigos a serem silenciados. A sindicância aberta no rastro das primeiras denúncias seguiu o roteiro previsível: terminou em pizza, servida à mesa da impunidade.
Agora, diante de um novo e grave relato, com registro policial, passagem pelo Conselho Tutelar e, pasmem, a confissão da própria autora dos maus-tratos, a máquina pública tenta, mais uma vez, ganhar tempo. Instaurou-se, tardiamente, um “procedimento administrativo”. A população, porém, já aprendeu a lição: processo administrativo na gestão atual é, muitas vezes, sinônimo de arquivamento futuro. A postura ficou ainda mais clara quando uma autoridade do executivo, em um ato de cinismo revoltante, disse à mãe angustiada que “as denúncias não dariam em nada”. Esta frase, sozinha, é a síntese do governo: uma declaração de impunidade antes mesmo da apuração.
O cenário é agravado por uma contradição grotesca. Enquanto crianças seguem vulneráveis, a Prefeitura senta sobre uma emenda parlamentar de R$ 300 mil, conquistada pelo vereador Bidu, especificamente para a instalação de câmeras de monitoramento e compra de fogões industriais para o município. O dinheiro está lá. A necessidade, escancarada. A urgência, negligenciada. O que explica a prioridade ser dada a luzes de Natal terceirizadas de outro estado, e não à segurança das crianças? A resposta é óbvia: fotos de cidade iluminada rendem mais likes e uma falsa sensação de prosperidade do que o trabalho invisível, porém essencial, de garantir infraestrutura básica de proteção.
Até quando, senhora secretária de educação, você vai preferir proteger a imagem podre de uma gestão a proteger os filhos de Pedro Gomes? Até quando, senhor prefeito, você vai achar que iluminação pública compra o direito de manter as creches na escuridão do descaso? A população não é mais ingênua. Sabe que o silêncio da prefeitura não é incompetência, mas cumplicidade. Sabe que a demora não é burocracia, mas estratégia.
A confissão da agressora tira da administração municipal o último véu de dúvida. Não se trata mais de “suspeitas”. Trata-se de um crime admitido, ocorrido em uma instituição pública que falhou redondamente em sua função precípua. Qualquer medida que não seja a imediata responsabilização da envolvida, a transparência total do processo e a urgentíssima instalação das câmeras já financiadas será interpretada, e com justa razão, como mais um capítulo da política do acobertamento.
Pedro Gomes não é o município das mil maravilhas que tentam vender. É, neste momento, o município do terror disfarçado, onde a Prefeitura e a Secretaria de Educação parecem ter feito uma escolha: a de que algumas crianças são preço aceitável a pagar pela preservação de uma fachada. Essa escolha, no entanto, está com os dias contados. A cada nova denúncia, a cada palavra de desespero de uma mãe, a parede de mentiras racha mais um pouco. E o que escorre por essas rachaduras é a verdade nua e crua: a de uma gestão que olha para o berço do futuro e vê apenas um problema a ser abafado. A sociedade pedrogomense merece e exige mais. Muito mais.
