Pedro Gomes (MS) vive um retrocesso disfarçado de devoção. A administração municipal, ultimamente, tem confundido a gestão pública com o púlpito de uma igreja, impondo a religião evangélica como se fosse uma doutrina oficial. O que era para ser um espaço de trabalho para todos se transformou em um sermão de domingo, forçando cidadãos, crentes ou não, a engolir uma fé goela abaixo.
É crucial deixar claro: a questão não é como qualquer igreja ou fé, todas merecem respeito. O problema reside no fato de que o Estado não tem religião, e o servidor público não foi eleito para evangelizar. Quando prefeitos e secretários misturam culto com reunião de trabalho, eles violam a Constituição e desrespeitam a parcela da população que pensa diferente.
Esse desvio de função se manifesta de forma perigosa: orações em eventos oficiais, mensagens religiosas em secretarias e discursos que invocam “autoridade divina” para justificar decisões administrativas. O poder público não pode se ajoelhar a um credo específico, pois isso transforma a fé em uma ferramenta de controle.
E no fim, quem perde com isso? Todos.
Perdem os umbandistas, os candomblecistas, os católicos, os espíritas e até os próprios evangélicos que se recusam a ver sua crença instrumentalizada pela política. O resultado é um ambiente intoxicado pela intolerância, onde quem não reza pelo mesmo livro é tratado como um cidadão de segunda classe.
O Brasil é um Estado laico. Laicidade não significa ausência de Deus, mas a presença obrigatória de respeito à diversidade. Fé é uma escolha pessoal, não pode ser uma política de estado.
Está na hora de Pedro Gomes realinhar suas prioridades: a cidade precisa de gestão, obras, escolas e saúde – não de púlpitos travestidos de secretaria. A salvação que a população realmente espera é ter uma administração que governe para todos, sem distinção de crença.
