Silêncio na Farda: MS enfrenta crise de suicídios e saúde mental na polícia

Mato Grosso do Sul vive uma crise invisível de saúde mental entre seus policiais, marcada por uma alarmante taxa de suicídios que supera a de estados com efetivos maiores. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação revelam que, de 2019 a abril de 2024, nove policiais militares tiraram a própria vida. Na Polícia Civil, foram 11 casos desde 2014.

Em 2022, o estado registrou a maior taxa nacional de suicídio entre policiais, de 0,6 por mil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O problema é agravado por uma cultura institucional que estigmatiza a vulnerabilidade e prioriza a resistência, fazendo com que o suicídio mate mais que confrontos.

Estudo aponta caminhos para a solução

Uma pesquisa inovadora da UFMS, conduzida pela psicóloga e policial civil Fabiana Pedraza, utilizou inteligência artificial para identificar os principais fatores de risco e proteção. Os dados são graves: transtornos mentais respondem por 30% de todas as licenças médicas, com afastamentos médios de 43 dias.

Os principais fatores de risco são:

Instabilidade na carreira: Mudanças constantes de lotação aumentam em 13% o risco de adoecimento.

Falta de reconhecimento: Policiais com notas baixas no início da carreira e sem elogios formais têm 92% de probabilidade de desenvolver um transtorno.

Por outro lado, o reconhecimento formal mostrou-se um poderoso antídoto: um simples elogio reduz o risco de adoecimento mental em 49%.

Assédio mascarado como disciplina

Outro estudo com PMs revelou um ambiente onde a linha entre hierarquia e humilhação é tênue. Enquanto gestores minimizam relatos de assédio atribuindo-os a “falta de tato”, subordinados relatam críticas excessivas, humilhação e isolamento, resultando em desmotivação unânime e aumento no consumo de álcool.

Respostas institucionais

Existem iniciativas de apoio, como o programa “Escuta Susp” (atendimento psicológico remoto) e núcleos de apoio psicossocial. No entanto, especialistas apontam que a prevenção ainda é majoritariamente reativa, dependendo da iniciativa do próprio policial para buscar ajuda.

A pesquisa da UFMS propõe uma solução proativa: um Sistema de Intervenção Precoce (SIP), um software que usaria dados administrativos para identificar policiais em risco e alertar os gestores para uma ação preventiva.

A reportagem procurou as corporações (PMMS e DGPC) para comentar as políticas de saúde mental, mas não obteve retorno, um silêncio que reflete a própria crise que se busca combater.

Leia Matéria Original em: https://correiodoestado.com.br/cidades/policia/suicidios-levam-policias-de-mato-grosso-do-sul-a-crise-invisivel/454368/

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